Do Correio Braziliense deste domingo (24): De dentro da Caixa de Pandora saíram revelações com força para devastar o cenário eleitoral até dois meses atrás praticamente definido em favor da reeleição de José Roberto Arruda (DEM). As denúncias de corrupção implodiram as pretensões do grupo governista para outubro e realçaram o potencial eleitoral de segmentos até então adormecidos na política candanga. A crise instalada na política local promete ecoar em todas as instâncias das eleições deste ano. Da escolha dos distritais aos deputados federais, passando pelo Senado até chegar ao GDF, todo o tabuleiro será influenciado pelas surpresas de Pandora.
Dos 24 distritais, oito são investigados no Inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que apura a suposta rede de pagamento de propinas de Executivo para a base aliada na Câmara Legislativa. Desses, dois não podem sequer concorrer porque perderam a legenda. Um grupo ainda mais extenso de 19 deputados que apoiam Arruda sabe que o desgaste de um governo enfraquecido pode prejudicá-los nas urnas e há pelo menos quatro nomes entre os não citados no escândalo com planos de concorrer a cargos federais. Com um estrago que transborda o número de titulares e atinge até dois suplentes, a expectativa é de renovação na Câmara Legislativa.
Apesar da dança de cadeiras prevista, a crise envolvendo um terço dos integrantes da Câmara no DF deve facilitar o ingresso no Legislativo local. O escândalo de corrupção sem precedentes na história política do DF tende a aumentar o número de votos brancos e nulos nas eleições para o cargo em outubro, o que vai diminuir a quantidade de votos válidos e, por consequência, o quociente eleitoral (o mínimo necessário para eleger um distrital). Assim, é possível, ainda que numa expressão de protesto, que os deputados da próxima legislatura se elejam por um grupo menor de eleitores.
Na esfera federal, a Câmara dos Deputados concentrará os esforços dos partidos em outubro. O grupo de esquerda, capitaneado pelo PT, sairá mais forte da crise — caso consiga se desviar dos escândalos até as eleições — e terá chances reais de fazer mais representantes no Congresso. A expectativa do partido é consolidar a aliança com o PDT, o PSB e eventualmente com o PMDB, coligação que criaria condições para eleger até cinco candidatos, situação inédita para a esquerda, que chegou a ter quatro representantes no passado, mas só conseguiu dois nomes nas eleições de 2006.
E o que parece viável para a esquerda tornou-se um desafio ao grupo atingido pelas denúncias. Integrantes do DEM que, num passado recente, disputaram a preferência de Arruda e do partido para concorrer ao Senado agora não conseguem sequer prever uma boa performance na briga pela vaga de deputado federal. Assim, o vetor sobrecarregado com pelo menos seis nomes e que, antes da crise, apontava para o cargo majoritário no Congresso Nacional fará um recuo com destino à Câmara dos Deputados. O vice-governador Paulo Octávio (DEM), que mantinha como hipótese mais modesta de suas pretensões para o pleito deste ano a disputa ao Senado, não deverá se arriscar. Já descartou concorrer ao governo, mas, por enquanto, não admite ficar de fora da disputa eleitoral. Estuda as chances para se candidatar à Câmara.
O cargo mais concorrido no DF também é o que apresenta cenário mais improvável. Ao mesmo tempo em que os escândalos reforçam a participação do PT na corrida pelo Buriti, abrem espaço para balões de ensaio sobre as candidaturas de José Antônio Reguffe (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB) e encorajam alas mais radicais da esquerda, como o PSTU; a crise pode ainda restringir as eleições a um duelo entre o PT e Joaquim Roriz (PSC). Mas há muita água para correr antes da confirmação desse quadro. Ainda é precipitado medir a força que o ex-governador terá e como poderá distribui-la aos aliados. O grupo de Roriz aguarda com desconfiança a poeira baixar para saber o nível de comprometimento e medir as avarias que as denúncias podem causar ao ex-governador nas urnas. Nos bastidores da política, há quem aposte que Roriz não sobreviverá politicamente até outubro.
Como resultado dos últimos acontecimentos, o PT deu um passo para trás retomando o debate sobre quem será o candidato da legenda com mais chances em outubro (Agnelo Queiroz ou Geraldo Magela), situação que pode evoluir para uma briga interna. A projeção do PT em Brasília no próximo pleito pode encurtar, no entanto, o que seria um debate desgastante para a legenda. Convencido sobre o potencial do partido em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve dar ele próprio um veredicto sobre a escolha do candidato. Lula disse a lideranças do partido no DF que vai acompanhar de perto a situação local e mandou um recado para Cristovam Buarque sobre o gosto que faz da aproximação entre o PDT e o PT local.
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