segunda-feira, 11 de outubro de 2010

FOME COM A VONTADE DE COMER

Por apostar em uma dupla vitória no primeiro turno, com Dilma Rousseff e Agnelo Queiroz, a coalizão em torno do PT é a que mais se abateu na segunda fase da disputa em Brasília. Enquanto isso, as forças políticas que apoiam o ex-governador Joaquim Roriz respiraram aliviadas. Segundo as pesquisas mais confiáveis, a derrota era iminente. De patinho feio, Weslian Roriz, mulher e candidata substituta do ex-governador, passa agora, naturalmente, a desempenhar um papel preponderante nas eleições. Seu desafio, a princípio impossível, pode receber uma ajuda inusitada da estranha configuração política que assoma o debate eleitoral deste ano no DF.
Primeiro dado: Roriz sempre é forte nas camadas mais pobres da população. Segmentos que, por sinal, tendem a ser imunes à campanha de desclassificação (quase jocosa) contra a candidata substituta. É também nesse estrato social que viceja o debate de cunho religioso, e que tanto tira votos de Dilma. Segundo aspecto: caso se confirme a onda anti-PT, que ficou nítida no primeiro turno, Serra tende a capitalizar os votos dos eleitores que querem barrar a ascensão da petista. Essa dobradinha, uma espécie de “fome com a vontade de comer”, só corre o risco de não dar certo pelo fato de Weslian ter rejeição altíssima nas classes média e alta de Brasília.
Além disso, o caminho natural, digamos ideológico, de muitos dos votos anti-PT é o próprio Agnelo. Os outros candidatos do campo da esquerda tiveram votações expressivas — Eduardo Brandão (com a sigla verde de Marina), com 5,64% dos votos válidos e, especialmente, Toninho do PSol, com 14,25%. Eduardo já declarou apoio ao petista neste segundo turno. Toninho já anunciou que anulará seu voto. Em busca dos quase 200 mil votos do candidato do PSol, o petista já deflagrou uma campanha específica, com material publicitário e tudo mais (foi lançado um adesivo, com a frase “Votei Toninho, agora voto Agnelo”). O petista também está em campo atrás de corações e mentes evangélicas. Conciliar esses dois públicos tão heterogêneos não é tarefa para qualquer marqueteiro.

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