Brasília recebeu, nas últimas
semanas, um presente de Grego. O que você esperaria de um projeto que se chama
PPcub (Plano Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília Que se ocupasse do
que o seu nome designa. Mas é precisamente o contrário; é um cavalo
Troia. Quando tiramos a embalagem, percebemos que, a pretexto de criar
regras para ordenar a preservação, ele sai alterando. É um plano para
desvirtuar, desfigura e desfundar Brasília
Recapitulemos algumas propostas
da versão original do plano: 1)o loteamento da porção oeste do Eixo Monumental,
entre a Praça do Cruzeiro e a Epia, permitindo o uso até de centros de
treinamento (modificado); 2) a criação da 901 Norte (modificado, só será
permitida a construção de prédios para servir à área cultural); 3) a
privatização, por meio de concessão pública, de lotes da unidade de vizinhança
destinados a escolas e a equipamentos públicos dentro das superquadras e nas
entrequadras do Plano Piloto, no Sudoeste e no Cruzeiro (retirado); 4) a quadra
500 do Sudoeste (retirado); a criação de um setor habitacional atrás da antiga
Rodoferroviária para prédios com até seis andares (retirado); 5) a
transformação de clubes em hotéis na orla do Lago Paranoá (retirado).
O Ministério Público barrou o
processo e, graças à reação de arquitetos e de urbanistas, vários pontos foram
modificados ou retirados. No entanto, as ameaças permanecem vivas, pois o plano
tem 150 páginas e um cipoal de mais de 300 planilhas, onde mora o perigo.
Somente o fato de os citados ítens serem incluídos em uma lei de preservação já
indica o grau de compromisso com as ideias que nortearam a criação de Brasília
e lhe deram o título de Patrimônio Cultural e Histórico da Humanidade. Nos
espaços vazios, projetados por Lucio Costa, criando a paisagem da cidade
espacial, com suas escalas em harmonia, que conferem singularidade à capital
modernista, só vislumbram mais chances de predar.
Em face da situação, teóricos do
urbanismo têm formulado os conceitos de cidade-empresa, cidade-negócio,
cidade-oportunidade, concebidas para atropelar as leis de ordenação urbana a
qualquer preço. Em benefício de quem? De meia dúzia de espertos. Por isso, as
cidades estão cada vez mais caóticas, desorganizadas, inseguras e violentas.
Amigos que viajam para as grandes
capitais brasileiras comentam o estado insustentável em que se encontram e
louvam cada vez mais a qualidade de vida de Brasília, apesar de todos os
problemas. É obra do plano urbanístico de Lucio Costa. O PPCub vem para
desvirtuar essas virtudes em uma só canetada.
Essa é a mais grave ameaça que o
traçado urbanístico de Brasília já sofreu ao longo da história. Seria muito bom
se transferissem essa urgência e açodamento em votar o plano da desfundação de
Brasília para projetos de maior interesse público: melhorar o transporte
urbano, as ciclovias, a educação, as condições dos hospitais, a qualidade do
atendimento aos pacientes e a segurança. Falta, sobretudo, amor e compromisso
com Brasília. Como diz Noel Rosa no Samba do positivismo: “O amor vem por
princípio/A ordem por base/O progresso é que deve vir por fim”.
Por Severino Francisco - Cronica
da Cidade - Correio Braziliense - Oficial, Publicação: 27/11/2013
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