domingo, 21 de novembro de 2010

AGNELO, O OTIMISTA

O pessimismo com a situação orçamentária difícil que se espera para o ano que vem e com o drama da Saúde (que pode ser amplificado pelo envolvimento pessoal do novo governador) não deve monopolizar o debate neste período de transição. Agnelo Queiroz (PT) sabe disso e começa a sinalizar com atos positivos, que ajudam a motivar sua equipe e a aliviar a pressão da opinião pública. Um desses temas otimistas começou a ser articulado na quinta-feira,18. O novo governador pretende encampar o projeto de inclusão do Distrito Federal no sistema ferroviário federal, ligando Brasília à Ferrovia Norte-Sul, passando por Goiânia e Anápolis.
 
A ideia é interessante – e impressiona o fato desse ramal até a capital federal ainda não constar no projeto original da Norte-Sul. Dias atrás, Agnelo participou de uma reunião com técnicos da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) justamente para verificar a viabilidade de sua proposta. Segundo ele, o feedback foi positivo. Para o governador eleito, o ramal ferroviário ligando Brasília a Goiânia, além de integrar o Distrito Federal a um projeto nacional, do qual está ficando de fora, também representa desenvolvimento econômico para o DF e Goiás.
 
O modal ferroviário entre Brasília e Goiânia poderia cumprir o percurso de 200 quilômetros entre as duas cidades em cerca de uma hora. É menos da metade do tempo consumido por um carro usando a BR-060. A ferrovia incluiria transporte de carga e de passageiros. Esse projeto é discutido pelas duas unidades federativas há muitos anos. Segundo o estudo técnico assinado pelos dois governos, o eixo econômico ligando as duas capitais, passando por Anápolis, é o segundo maior do país. Em termos de potencial de consumo só perderia para o eixo Rio-São Paulo. Daí a importância de incrementar a integração e o aporte de investimentos em infraestrutura.
 
Como se ainda estivesse em campanha, Agnelo criticou os governos anteriores ao comentar o projeto do ramal ferroviário. Segundo ele, seus antecessores “só olhavam para o próprio umbigo, fazendo política miúda, sem pensar o Distrito Federal”. O problema, continuou o governador eleito, é que essa “falta de visão” impediu que o DF fosse inserido em grandes projetos nacionais, como é o caso da Ferrovia Norte-Sul. Agnelo também se mostrou preocupado com a imagem negativa que este projeto acabou obtendo em tempos passados e foi taxativo: “Não tem nada a ver com trem-bala ou trem-pequi. É um projeto com sustentação técnica, nada megalomaníaco e muito adequado à realidade”.
 
De olho na opinião pública, o petista tem razão ao procurar o debate de propostas positivas para o começo de seu governo. Nas últimas semanas, o período de transição foi marcado por notícias ruins. A principal delas diz respeito à área em que Agnelo mais pretende se notabilizar, a Saúde. Como médico, ele prometeu durante a campanha eleitoral que seria governador e secretário de Saúde nos primeiros 100 dias da administração. Assumiu esse sério compromisso, mas nos últimos dias sua equipe, se não pareceu desesperada, pelo menos deu mostras de que estava mal informada da real situação do setor. Segundo o levantamento preliminar da comissão indicado por Agnelo, o déficit da Saúde para o próximo ano será de nada menos que R$ 680 milhões. Isso, sem contar os problemas estruturais, como a falta de equipamento e de medicamentos, além da desmotivação dos profissionais.
 
O governador eleito não precisa ignorar uma eventual herança maldita. No entanto, como político habilidoso, sabe que o eleitor não gosta de choradeira. Eleitor gosta de realizações e motivos para sonhar.

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